Páscoa

José Jesus bebia,
Bebia muito.
Não tinha posses:
Um barraco,
Uma bicicleta
E a disposição para a bebida.
Era um cara bacana.
Gostava de farra,
De amigos,
Viados,
Putas
E travestis.
Abraçava a todos!
Jogava sinuca,
Dominó
E carteado.
Quando sóbrio,
Prestava serviços braçais.
Pintava paredes,
Consertava coisas,
Ajudava em mudanças,
Que não rolavam em sua vida:
Sem contato com a ex esposa
E sem contato com os filhos,
Ele só seguia.
José Jesus não era perfeito,
Ele era humano.
Sorriso largo no rosto,
Alma de vagalume,
Sempre acendendo e apagando ao final do dia.
Os olhos amarelos,
Que vertiam sorrisos
E cachoeiras de saudades.
José Jesus não tinha 33 anos.
Ele tinha 62,
Quando numa sexta-feira santa
Saiu do bar e foi atropelado por um motorista também bêbado
Que fugira sem prestar socorro.
José Jesus não ressuscitou no terceiro dia.
Não. Bêbados não ressuscitam.
Eles têm uma dívida enorme com os santos ao qual não ofereceram o primeiro gole.
Bêbados viram histórias de bar.
Como seu velório,
Que foi no bar/segunda casa
Cheio dos mesmos amigos, viados, putas e travestis.
Copo de cerveja na mão,
Samba na radiola de ficha,
E a sinuca aposentada
Como se aposentam camisas 10 memoráveis
De times históricos de futebol.

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